“Por Paixão”, responde Rui Manuel Sá, à pergunta pertinente do porquê da sua profissão. Jornalista, formado no Porto em Comunicação Social e Jornalismo, trabalha há já 20 anos na RTP. Sentado numa cadeira encarnada e frágil, pronto a colocar as cartas na mesa, abrindo a sua experiência às inexperientes questões, relata que, no seu entender, é a pressão editorial a que um jornalista está mais exposto, mas não descarta que se o profissional a procura, acaba-a por sofrer. “ (…) Eu procuro… duas regras para não ser pressionado.”, revelou o jornalista, que por norma não aceita informação de fontes anónimas, facto que, durante a sua carreira, só sucedeu em dois ou três casos. A segunda regra manteve-a consigo.A função de um profissional de comunicação é transmitir uma mensagem, ser um mediador, entre o público e os vários actores de um determinado assunto, mesmo quando o diálogo com a fonte possa pôr em causa o cumprimento da sua função, “ (…) a forma mais inteligente das fontes tentarem bloquear uma notícia é não falar. (…) se a pessoa não quer comentar é porque tem algo a esconder.”, afirma Rui Sá, que valoriza a transmissão de factos negativos no âmbito de permitirem, segundo o entrevistado, um diálogo numa próxima vez.Porém, essa mesma transmissão não é, devidamente, transparente quando, e voltando a questão da pressão, o jornalista se deixa corromper pela oferta de favores materiais em troca de um comentário, ou notícia, positivo acerca de um assunto que poderia colocar em causa, por exemplo, a credibilidade de um entidade, estabelecendo, então, uma relação de interesse mútuo entre as duas partes. É o “pôr-se a jeito”, que o jornalista da RTP, sugere em tons de humor, soltando uma gargalhada, talvez irónica, tendo em conta o jogo, pois as pressões nunca são verdadeiramente explícitas, que é feito pelas mesmas entidades, interessadas em manter uma imagem inabalável de si mesmo, onde um ciclo vicioso de favores e “palmadinhas nas costas” leva à verdadeira pressão, a auto-pressão.E como reagir a esta pressão? Rui Manuel Sá, deixa o recado, “Cada vez mais, a pressão vem de nós mesmos, é necessário ser-se verdadeiro, isento, e coerente, para que possamos lidar com ela de uma melhor forma.”.A coerência lembra, claramente, o respeito. E na árdua trama jornalística, respeitar e reconhecer o trabalho dos demais faz parte da busca pela verdade.Uma das entidades que merece o respeito do jornalismo, já que também faz parte dos órgãos de comunicação, é a dos Relações Públicas, realidade relativamente recente na região transmontana, acusados, por vezes, de exercerem uma forte pressão sobre os meios de comunicação. Embora o preconceito criado, Rui Sá, revela a existência de uma boa relação, uma relação institucional, entre as duas partes, “Não tenho razão de queixa”, explica, “os papéis estão muito bem definidos e eles estão lá para nos ajudarem”, conclui. Opinião partilhada por Luís Mendonça, jornalista radiofónico.Numa outra realidade… um estúdio de rádio, de mãos cruzadas e rodeado de microfones e auscultadores, Luís Mendonça, director da Rádio Universidade, está pronto a transmitir o conhecimento que os mais de dez anos de trabalho com a magia da rádio lhe trouxeram. A curiosidade que tinha em saber como era a pessoa do outro lado do aparelho traçou-lhe o caminho para o jornalismo em formato rádio, “Quando era miúdo gostava de estar do outro lado do microfone e de transmitir sensações e ideias.”.Quanto a evolução e o crescimento da rádio, o director aponta para o lado positivo, “vivia em Chaves e os estúdios de rádio funcionavam em Lisboa. (…) Não existiam rádios em todo o país, ao contrário de Hoje.” Porém, a evolução possui uma outra face da moeda, e com ela surge a pressão em detrimento do prazer de fazer rádio.
Questionado sobre a possibilidade de as infra-estruturas políticas quererem influenciar a transmissão da informação, Luís Mendonça, age com a naturalidade de essa ser uma situação normal, que o próprio conhece, “ (…) a pressão não é só feita aos jornalistas como também aos directores de rádio”. Concorda, porém, quando confrontado com o declínio do poder político e revela que a pressão económico-financeira tem prevalecido, nomeadamente, pelas necessidades monetárias, ordenados e despesas, nas entidades de comunicação independentes.
Um dos apoios económicos mais favoráveis à subsistência dos órgãos que vivem de si é a publicidade. E não será a publicidade, igualmente, uma forma de pressão, já que pode ameaçar a sobrevivência da entidade em questão?
O entrevistado explica que já sofreu pressões directas, relacionadas com a publicidade, mas não descortina que se sucedem com frequência pressões indirectas, ameaças de vandalismo que nunca chegam a acontecer, “ (…) são situações que estão sempre a surgir”, reage com brincadeira.
Agora, numa situação semelhante, e em acto de conclusão, os dois jornalistas deixam alguns conselhos para os futuros profissionais da comunicação.
Rui Sá, jornalista da RTP, lembra o quão lotado está o mercado profissional, e alerta para a facilidade de ceder às pressões impostas. Para isso, aconselha o cumprimento das regras universais estabelecidas, mantendo a fidelidade aos princípios pessoais e respeitando o trabalho e a posição dos outros profissionais.
Por seu lado, Luís Mendonça, director de rádio, afirma que o tempo e a experiência ajudaram a lidar com a pressão.
Parabéns aos meus colegas pelo excelente trabalho realizado. A reportagem trata de um tema interessante e que todos os dias os profissionais da comunicação têm de lidar.
A pressão de que são alvo os jornalistas, é muitas vezes díficil de contornar, e permite distinguir os bons dos maus profissionais.
Mais uma vez parabéns à Liliana e ao Tiago.
Este tema aqui mencionado é de facto um problema com o qual os jornalistas têm que saber lidar todos os dias.
O trabalho está bastante profissional e real. Muito bem…